Saturday, November 26, 2005

Concerto Sigur Rós - Coliseu de Lisboa, 20 Novembro 2005

A noite de 20 de Novembro por muitos era aguardada com grande expectativa. Para uns era um reencontro com uma banda que há uns anos pisara o mesmo Coliseu, para outros, como eu, era a primeira experiência ao vivo do universo dos Sigur Rós.
A primeira parte do concerto esteve a cargo de quatro raparigas conterrâneas da banda principal, as Amina. Com instrumentos tão originais como caixinhas de músicas, violinos, serrotes, pianos, cordas, copos, etc, a banda foi uma agradável surpresa para quem as ouviu. As suas melodias doces e surpreendentes foram como um aperitivo para a música que se seguiria.
Os Sigur Rós entraram em palco e através das suas sombras ouvimo-los e vimo-los a tocar “Glósóli”, a faixa de abertura do último álbum. Com jogos de luzes fantásticos que mudavam a cada de música e com um ecrã que passava de tempos a tempos imagens tão enigmáticas como a própria música, os Sigur Rós fizeram com que toda a audiência ficasse rendida às suas melodias densas, idílicas e originais.
A voz do vocalista Jónsi Birgisson é surpreendentemente arrepiante ao vivo e parece entrar nos ouvidos e mexer com todos os nossos sentidos. Se aquelas músicas já quando ouvidas em cd no conforto das nossa casas têm a capacidade de nos fazer sentir e sonhar, ao vivo as emoções são ainda maiores.
O repertório do concerto centrou-se sobretudo em músicas do recente “Takk” mas o encore foi deixado a cargo da poderosíssima “Untitled #8”, música que encerra o álbum “ ( )” .
O concerto foi tão bom ou melhor do que se esperava. Os Sigur Rós consagraram-se de vez entre nós e o seu profissionalismo e alma sentem-se nas suas músicas que ao vivo ganham uma aura ainda maior e mais misteriosa.
Os Sigur Rós e as Amina (que aliás tocaram com eles) vieram ao palco agradecer duas vezes. Mas somos nós que lhes temos de agradecer por nos darem momentos e músicas tão especiais com a capacidade de nos hipnotizar. Takk.

Saturday, November 19, 2005

Hell is for heroes- The neon handshake (2003)



Primeira pergunta a fazer: Quem são estes tipos que pouca gente deve conhecer? A verdade é que coisas sobre os hell is for heroes não pululam por aí como festas chique nas revistas cor de rosa, ou como sobreiros numa qualquer planície alentejana. No entanto, ainda se vão sabendo umas coisas. Por exemplo que eles são sete (ou pelo menos eram quando editaram este disco) e que têm como alojamento fixo as ilhas britânicas, mais propriamente Londres. Ah, e que este "the neon handshake" é o primeiro de dois discos da banda: Já este ano, editaram "transmit disrupt" que foi alvo de um concerto em Portugal no club lua, há coisa de um mês, com os portugas twenty inch burial e easyway a abrirem(e mais uma banda britânica cujo nome não me recordo). Esta foi a segunda visita da banda a Portugal, já que no ano de lançamento deste primeiro disco, apareceram por cá no coliseu, para serem a banda de abertura dos papa roach.

Ok, e agora disse este nome, vai-me já cair tudo em cima: Ora, para desmistificar qualquer dúvida que possa surgir, os hell is for heroes, pouco têm a ver com os papa roach. Enquanto estes segundos fazem um rock ainda com algumas variações de nu-metal, pouco inventivo, demasiado preso a clichés amorosos e afins, os hell is for heroes, traduzem-se por um rock musculado, de contornos quase épicos, que lhes dão um tom saborosamente negro. Rock, com alguns laivos de emo pela voz é certo, mas acima de tudo com algum peso à mistura.

E, afinal de contas, o que é este "The neon handshake"? Porque é que raio um disco de 2003 é aqui introduzido, em vez de estarmos a falar do novo disco da banda? Primeiro porque, apesar de o ter por aqui, ainda não ouvi em condições "transmit disrupt". E depois porque "the neon handshake" é o futuro de qualquer coisa, uma porta que se abre(um pouco como está na capa do disco), um disco intensíssimo ,tanto pelo peso das guitarras, como pela emotividade da voz, passando pelas letras, bem mais profundas do que é costume, mas acima de tudo pela capacidade inata de produzir grandes canções.

Porque "The neon handshake" é basicamente isso: Um disco de grandes, grandes canções. Que se integram perfeitamente umas nas outras, que se interlaçam como irmãs siameses para não se largarem. Entre a abertura mecânica de "Five kids go" que depois desagua num refrão extremamente intenso e de contornos épicos, passando pelo segundo tema "out of sight" que é uma pérola auditiva (especialmente devido às fantásticas variações ambientais que conseguem ser criadas, passando de acalmia a raiva de uma maneira fabulosa). Indo também a "cut down" uma das músicas mais rockeiras do disco, com um refrão estonteante, a "few against many", tema todo ele extremamente emotivo, e rico em diferentes tipos de abordagem musical (atestar no início do tema por exemplo). E quem diz estes temas diz "I can climb moutains", provavelmente a melhor canção deste disco, tanto pela força que possui, pelo refrão extremamente contagiante, ou pela abordagem vocal do tema. È realmente uma autêntica força da natureza esta faixa sete do disco. Um tema épico, sofredor, intenso, pesado, contagiante, forte. Muito forte mesmo, não de uma maneira crua, mas subliminarmente.

De qualquer maneira falar apenas e só de rock, ou de emo, ou de peso, é muito mas muito redutor em relação ao disco. Se, para um ouvinte como eu, isso chegava e sobrava, a verdade é que para quem se dá menos com este tipo de sonoridades tem na excelente "retreat" uma grande aposta. È talvez o tema menos pesado,possuindo uma uniformidade instrumental que acarreta em toda a sua extensão, ainda assim consegue ter um peso emocional igual às suas antecessoras. Talvez até possa soar estranho para um disco de rock com laivos de emo (estando muito longe de emocore ou algo do género), no entanto não me parece mais apropriado um fecho de luxo como este. Até porque "transmit disrupt" assim o confirma.

Bom, mas até me dói o coração não falar da genial "Disconnector" com a sua abertura leve, para depois passar a um tema feito de raiva e ira, com uma parte instrumental fabulosa. Ou por "You drove me to it" uma canção que tem um refrão super cola 3, para além de ser um belo tema de rock. Por "slow song", talvez o tema mais bonito de todo o álbum. Começa calmamente, levemente, com sussurros, tanto vocais como instrumentais, a preencherem os nossos ouvidos, para depois se transformar num épico gigantesco cheio de peso e intensidade.

Bem, e posto isto apercebo-me que falei das canções quase todas faltando, salvo erro "Night vision","Three of clubs" e "Sick happy": Três temas que não foram referidos, não por falta de qualidade, mas porque também deve fartar aos olhos mais sensíveis estar a ler uma crítica que já vai longa. E logo sobre o raio de uma banda pouco conhecida.

Fazendo agora uma espécia de súmula àquilo que este escriba andou para aqui a proclamar: "The neon handshake" é, de facto, um disco fantástico. Pode-se não gostar do género, não gostar da voz, dos instrumentos, da capa, das letras, do peso existente em quase todas as faixas, do epicismo existente em grande parte das canções. Até se podem odiar as mães deles e os pais, por terem feito a banda. Agora uma coisa é certa e inequívoca: "The neon handshake" é inabalável enquanto disco de rock que é. Porquê? Porque não se enquadra em nenhum subgénero do rock.Porque não farta a audição. E, acima de tudo porque cada tema é um mundo a descobrir. Não existem pontos mortos, não existem canções nem a mais nem a menos. E, ainda por cima, num sentido de uniformidade e homogeneidade como há muito o rock mais pesado não via.

Dentro dos media mais especializados este álbum foi muito bem recebido. Alguns críticos da Loud! deram-lhe lugar destacado nas tabelas de melhores de 2003, bem como aconteceu nas ihas britânicas. E, sim, dentro de uma certa parcela musical existiu algum hype em torno da banda. E, apesar de "transmit disrupt" ter passado mais despercebido, a verdade é que este "the neon handshake" canoniza desde já um grupo que ainda tem muito para crescer. Sim, esta frase pode parecer demasiado bombástica, mas a verdade é que "The neon handshake" é, para mim, um clássico do rock dos tempos modernos. Se muitas bandas de rock fossem beber influências a este disco, talvez o panorama musical mundial fosse bem mais risonho. E daí talvez não: Cada banda deve ser única, e os hell is for heroes provaram-nos isso mesmo com um disco destes. Se agora só fizerem erros musicais, uns atrás dos outros, sempre podemos pegar neste primeiro disco e dizer "Pelo menos eles já foram geniais. e logo à primeira tentativa".

9/10